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Nárnia na Revista Epóca - 5/12/2005

Crônicas de Nárnia: Saiba mais sobre a história que deu origem ao filme e sobre o autor da fábula.
Um mundo que faz referências ao cristianismo e à mitologia. Descubra o universo que saiu da mente de um escritor irlandês chamado C.S. Lewis
POR LUCIANA BORGES

Foto: Divulgação
Animais e seres mitológicos fazem parte do mundo de Nárnia, criado por C.S. Lewis
         As histórias criadas por C.S. Lewis no mundo fabuloso de Nárnia, compreendem ao todo sete livros. A ordem de publicação dos contos, no entanto, não foi cronológica. O primeiro livro lançado - Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa - é, na verdade, o segundo, levando-se em conta a ordem de acontecimento dos fatos. O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupa, escolhido para ser adaptado ao cinema, focaliza a história em quatro crianças,chamadas Pedro, Susana, Edmundo e Lucia (em português). Quando vão morar na casa de um tio distante, que vive no campo, as crianças nem desconfiam que a propriedade seria o passaporte para um outro mundo.
          Em um dos muitos quartos da mansão do tio Digory, Lucia encontra um enorme armário de madeira. Curiosa com sua descoberta, ela entra na peça e, assim, acidentalmente, descobre o caminho para o mundo de Nárnia. Logo que começa a andar pelas terras ela encontra um ser metade cabrito, metade homem (um Fauno). É ele quem explica à menina que Nárnia é dominada por uma Bruxa, a qual deixou seu mundo em um eterno inverno. Ela também ordenou que todos os humanos que cruzassem suas terras fossem levados à sua presença. A criatura, no entanto, compadecida pelas atitudes da menina, ajuda-a a encontrar o caminho de casa.

Uma terra onde os animais falam
A Bruxa que trouxe o inverno eterno
         
          Em Nárnia não existem humanos, só animais. Alguns falam, outros não. O primeiro livro conta que Aslan, o soberano maior de Nárnia, teria escolhido um casal de cada espécie e dado a eles o dom da fala. Eles poderiam, então, escolher se desejariam continuar desta maneira ou se voltariam a ser animais ordinários, como a maioria. Tanto a Bruxa quanto as crianças que conhecem Nárnia vêem de outros mundos. Cabe a esses humanos, contudo, modificar as estruturas vigentes em Nárnia. Quando Pedro, Edmundo, Susana e Lucia finalmente chegam juntos a essa terra fabulosa, encontram um Castor. É o animal que explica às crianças como está a vida em Nárnia desde a chegada da Bruxa.
          O Castor revela que Nárnia vive em um constante e tenebroso inverno, no qual nunca chega o Natal. A Bruxa castiga quem é contra seus domínios transformando-os em pedra. Segundo uma lenda local, somente com a chegada de 'dois filhos de Adão' e 'duas filhas de Eva', o poder da Bruxa em Nárnia iria acabar.
          Alertados pelo Castor, Pedro, Susana e Lucia descobrem que foram traídos por Edmundo. O menino entregou o paradeiro dos irmãos à Bruxa em troca de um doce enfeitiçado. Para salvá-los de ser transformados em pedra, o Castor leva as crianças ao encontro de Aslan, o soberano de Nárnia.

Quem é Aslan
          
          Toda a história dos acontecimentos de Nárnia está diluída em seus sete volumes. Desta maneira, o leitor de C.S. Lewis só conhece a verdadeira importância do Leão Aslan conforme lê os livros, um a um. O personagem criado pelo autor irlandês na fábula é a personificação de um criador supremo. Foi ele quem trouxe a vida para Nárnia, bem como definiu quem seriam os animais falantes e quais seriam as leis daquela terra.
O Leão Aslan
         Aslan talvez seja o personagem mais complexo da saga, já que podem ser feitas muitas interpretações de seu papel em Nárnia. Cabe a Aslan, também, perdoar o irmão traidor, na história contada no livro que virou filme. O Leão se sacrifica para que Edmundo não morra nas mãos da Bruxa maligna. Para muitos, há aí uma analogia com Jesus Cristo e seu papel no cristianismo. Inúmeras referências mitológicas também são encontradas nos contos sobre Nárnia. Influências celtas, vindas da Irlanda, país natal de Lewis, são outras que podem ser notadas na obra.
          Aslan é uma criatura de extrema inteligência e bondade. Conhecedor das leis que regem Nárnia, cabe a ele combater a Bruxa. No entanto, não é ele quem governa essas terras. Ele deixa os habitantes terem livre arbítrio para escolherem o que devem ou não fazer ao conduzir suas vidas.

Uma fábula para crianças?
POR LUCIANA BORGES
           C.S. Lewis foi contemporâneo e amigo pessoal de J.R.R. Tolkien, o autor da obra O Senhor dos Anéis. Da mesma maneira que o autor inglês, Lewis criou um mundo com características próprias, uma fábula extremamente complexa. Por isso mesmo, apesar de ter muitas crianças como protagonistas nos sete volumes de sua obra, Crônicas de Nárnia não é uma obra propriamente infantil.
          A história do livro que virou filme começa colocando os quatro irmãos como fugitivos da Segunda Guerra Mundial. Eles vão para a mansão do tio fugindo de possíveis ataques em Londres, onde viviam com os pais. Além de abordar a conivência entre os irmãos, o livro foi o primeiro a introduzir o leitor no mundo criado por Lewis. Talvez por isso, a escolha de a história ser focalizada nas aventuras das quatro crianças em terras desconhecidas.
          A idéia para escrever as Crônicas de Nárnia vieram aos poucos, em imagens, como contou Lewis certa vez: 'um fauno carregando um guarda-chuva, uma rainha em um trenó, e um leão magnífico'. Dessas imagens mentais ele foi desenvolvendo a Terra de Nárnia, lugar habitado por alguns animais que vivem no nosso mundo e por outros saídos diretamente do mundo da mitologia.
          Curiosamente, As Crônicas de Nárnia não são muito conhecidas entre os brasileiros. Mas este é um fenômeno atípico para a obra, que já vendeu mais de 85 milhões de exemplares em todo o mundo. A majestade da obra de Lewis ficou em primeiro lugar no gosto dos jovens europeus (principalmente os ingleses) por muitos anos, e só perdeu seu posto de honra com o surgimento da saga de Harry Potter, de J. K. Rowling, a quem, certamente, influenciou bastante.

Um irlandês chamado C.S. Lewis
POR LUCIANA BORGES
C.S. Lewis
         
          Apesar de ser mundialmente conhecido pela obra As Crônicas de Nárnia, C.S. Lewis escreveu mais de 40 livros. Professor de Literatura Medieval e Renascentista da Universidade de Oxford, Lewis era fascinado pelos acontecimentos de outras épocas e eras, o que pode ser facilmente notado na complexidade do mundo que ele criou com Nárnia. Também era um estudioso do cristianismo, doutrina religiosa que influenciou fortemente em sua produção intelectual.
          Clive Staples Lewis nasceu em 29 de novembro de 1898, em Belfast, capital da Irlanda. Como sua família era protestante, logo mudou-se para a Inglaterra, onde estudou literatura medieval e cristianismo. Teve um irmão, que nasceu quando sua família ainda vivia na Irlanda: Warren era três anos mais novo que Clive. A mãe dos dois morreu dez anos depois do nascimento de C.S. Lewis, fato que influenciou fortemente sua fé, tanto que, aos 21 anos, declarou-se ateu.
          Quem trouxe Clive Lewis de volta ao cristianismo foram os amigos - T.S. Eliot e J.R.R. Tolkien, em 1931. Os primeiros contados com mitologia aconteceram na adolescência, quando ele passou a se interessar pelas lendas nórdicas e celtas.
          Entre 1925 e 1954, Lewis foi professor de Literatura Medieval e Renassentista na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Nessa época já integrava um importante grupo que discutia literatura, o qual tinha Tolkien, Charles Williams e Owen Barfield como membros.
          A carreira como escritor já havia começado, mas era restrita à teses acadêmicas. O primeiro trabalho de ficção escrito por Lewis foi The Pilgrim's Regress, o qual continha elementos da experiência do autor com o cristianismo. As Crônicas de Nárnia é o terceiro trabalho de ficção de Lewis. Foi neste trabalho que o irlandês pode mostrar seu apurado conhecimento em mitologia grega, romana e nórdica, e, ao mesmo tempo imprimir uma marca pessoal na concepção de seu mundo de fábula. Bem como as obras anteriores, elementos do cristianismo estão presentes também nesta criação.
          C.S. Lewis morreu em 22 de novembro de 1963, em Oxford, ao lado de seu irmão, Warren. Curiosamente, a morte do escritor foi pouquíssimo noticiada, pois aconteceu no mesmo dia do assassinato do presidente americano John Kennedy. Escritores contemporâneos de literatura juvenil inglesa já revelaram ser fortemente influenciados pelo trabalho de Lewis. É o caso de Daniel Hundler (de A Series of Unfortunate Events), Eoin Colfer (de Artemis Fow) e, claro, J.K. Rowling, que já contou ter prestado uma homenagem a Lewis na saga Harry Potter. O nome Cedric Diggory, personagem de O Cálice de Fogo, é uma referência a Digory Kirke, personagem de Crônicas de Nárnia, principalmente no livro O Sobrinho do Mago.

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