Crônicas de Nárnia: Saiba mais sobre a história que deu origem ao filme e sobre o autor da fábula.
Um
mundo que faz referências ao cristianismo e à mitologia. Descubra o
universo que saiu da mente de um escritor irlandês chamado C.S. Lewis
POR LUCIANA BORGES
Foto: Divulgação
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Animais e seres mitológicos fazem parte do mundo de Nárnia, criado por C.S. Lewis |
As histórias criadas por C.S. Lewis no mundo fabuloso de Nárnia,
compreendem ao todo sete livros. A ordem de publicação dos contos, no
entanto, não foi cronológica. O primeiro livro lançado - Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa - é, na verdade, o segundo, levando-se em conta a ordem de acontecimento dos fatos. O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupa,
escolhido para ser adaptado ao cinema, focaliza a história em quatro
crianças,chamadas Pedro, Susana, Edmundo e Lucia (em português). Quando
vão morar na casa de um tio distante, que vive no campo, as crianças nem
desconfiam que a propriedade seria o passaporte para um outro mundo.
Em um dos muitos quartos da mansão do tio Digory, Lucia encontra um
enorme armário de madeira. Curiosa com sua descoberta, ela entra na peça
e, assim, acidentalmente, descobre o caminho para o mundo de Nárnia.
Logo que começa a andar pelas terras ela encontra um ser metade cabrito,
metade homem (um Fauno). É ele quem explica à menina que Nárnia é
dominada por uma Bruxa, a qual deixou seu mundo em um eterno inverno.
Ela também ordenou que todos os humanos que cruzassem suas terras fossem
levados à sua presença. A criatura, no entanto, compadecida pelas
atitudes da menina, ajuda-a a encontrar o caminho de casa.
Uma terra onde os animais falam
A Bruxa que trouxe o inverno eterno
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Em Nárnia não existem humanos, só animais. Alguns falam, outros não. O
primeiro livro conta que Aslan, o soberano maior de Nárnia, teria
escolhido um casal de cada espécie e dado a eles o dom da fala. Eles
poderiam, então, escolher se desejariam continuar desta maneira ou se
voltariam a ser animais ordinários, como a maioria. Tanto a Bruxa quanto
as crianças que conhecem Nárnia vêem de outros mundos. Cabe a esses
humanos, contudo, modificar as estruturas vigentes em Nárnia. Quando
Pedro, Edmundo, Susana e Lucia finalmente chegam juntos a essa terra
fabulosa, encontram um Castor. É o animal que explica às crianças como
está a vida em Nárnia desde a chegada da Bruxa.
O Castor revela que Nárnia vive em um constante e tenebroso inverno,
no qual nunca chega o Natal. A Bruxa castiga quem é contra seus domínios
transformando-os em pedra. Segundo uma lenda local, somente com a
chegada de 'dois filhos de Adão' e 'duas filhas de Eva', o poder da
Bruxa em Nárnia iria acabar.
Alertados pelo Castor, Pedro, Susana e Lucia descobrem que foram
traídos por Edmundo. O menino entregou o paradeiro dos irmãos à Bruxa em
troca de um doce enfeitiçado. Para salvá-los de ser transformados em
pedra, o Castor leva as crianças ao encontro de Aslan, o soberano de
Nárnia.
Quem é Aslan
Toda a história dos acontecimentos de Nárnia está diluída em seus sete
volumes. Desta maneira, o leitor de C.S. Lewis só conhece a verdadeira
importância do Leão Aslan conforme lê os livros, um a um. O personagem
criado pelo autor irlandês na fábula é a personificação de um criador
supremo. Foi ele quem trouxe a vida para Nárnia, bem como definiu quem
seriam os animais falantes e quais seriam as leis daquela terra.
O Leão Aslan
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Aslan talvez seja o personagem mais complexo da saga, já que podem
ser feitas muitas interpretações de seu papel em Nárnia. Cabe a Aslan,
também, perdoar o irmão traidor, na história contada no livro que virou
filme. O Leão se sacrifica para que Edmundo não morra nas mãos da Bruxa
maligna. Para muitos, há aí uma analogia com Jesus Cristo e seu papel no
cristianismo. Inúmeras referências mitológicas também são encontradas
nos contos sobre Nárnia. Influências celtas, vindas da Irlanda, país
natal de Lewis, são outras que podem ser notadas na obra.
Aslan é uma criatura de extrema inteligência e bondade. Conhecedor
das leis que regem Nárnia, cabe a ele combater a Bruxa. No entanto, não é
ele quem governa essas terras. Ele deixa os habitantes terem livre
arbítrio para escolherem o que devem ou não fazer ao conduzir suas
vidas.
Uma fábula para crianças?
POR LUCIANA BORGES
C.S. Lewis foi contemporâneo e amigo pessoal de J.R.R. Tolkien, o autor
da obra O Senhor dos Anéis. Da mesma maneira que o autor inglês, Lewis
criou um mundo com características próprias, uma fábula extremamente
complexa. Por isso mesmo, apesar de ter muitas crianças como
protagonistas nos sete volumes de sua obra, Crônicas de Nárnia não é uma
obra propriamente infantil.
A história do livro que virou filme começa colocando os quatro irmãos
como fugitivos da Segunda Guerra Mundial. Eles vão para a mansão do tio
fugindo de possíveis ataques em Londres, onde viviam com os pais. Além
de abordar a conivência entre os irmãos, o livro foi o primeiro a
introduzir o leitor no mundo criado por Lewis. Talvez por isso, a
escolha de a história ser focalizada nas aventuras das quatro crianças
em terras desconhecidas.
A idéia para escrever as Crônicas de Nárnia vieram aos poucos, em
imagens, como contou Lewis certa vez: 'um fauno carregando um
guarda-chuva, uma rainha em um trenó, e um leão magnífico'. Dessas
imagens mentais ele foi desenvolvendo a Terra de Nárnia, lugar habitado
por alguns animais que vivem no nosso mundo e por outros saídos
diretamente do mundo da mitologia.
Curiosamente, As Crônicas de Nárnia não são muito conhecidas
entre os brasileiros. Mas este é um fenômeno atípico para a obra, que
já vendeu mais de 85 milhões de exemplares em todo o mundo. A majestade
da obra de Lewis ficou em primeiro lugar no gosto dos jovens europeus
(principalmente os ingleses) por muitos anos, e só perdeu seu posto de
honra com o surgimento da saga de Harry Potter, de J. K. Rowling, a
quem, certamente, influenciou bastante.
Um irlandês chamado C.S. Lewis
POR LUCIANA BORGES
C.S. Lewis
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Apesar de ser mundialmente conhecido pela obra As Crônicas de Nárnia,
C.S. Lewis escreveu mais de 40 livros. Professor de Literatura Medieval
e Renascentista da Universidade de Oxford, Lewis era fascinado pelos
acontecimentos de outras épocas e eras, o que pode ser facilmente notado
na complexidade do mundo que ele criou com Nárnia. Também era um
estudioso do cristianismo, doutrina religiosa que influenciou fortemente
em sua produção intelectual.
Clive Staples Lewis nasceu em 29 de novembro de 1898, em Belfast,
capital da Irlanda. Como sua família era protestante, logo mudou-se para
a Inglaterra, onde estudou literatura medieval e cristianismo. Teve um
irmão, que nasceu quando sua família ainda vivia na Irlanda: Warren era
três anos mais novo que Clive. A mãe dos dois morreu dez anos depois do
nascimento de C.S. Lewis, fato que influenciou fortemente sua fé, tanto
que, aos 21 anos, declarou-se ateu.
Quem trouxe Clive Lewis de volta ao cristianismo foram os amigos -
T.S. Eliot e J.R.R. Tolkien, em 1931. Os primeiros contados com
mitologia aconteceram na adolescência, quando ele passou a se interessar
pelas lendas nórdicas e celtas.
Entre 1925 e 1954, Lewis foi professor de Literatura Medieval e
Renassentista na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Nessa época
já integrava um importante grupo que discutia literatura, o qual tinha
Tolkien, Charles Williams e Owen Barfield como membros.
A carreira como escritor já havia começado, mas era restrita à teses
acadêmicas. O primeiro trabalho de ficção escrito por Lewis foi The Pilgrim's Regress, o qual continha elementos da experiência do autor com o cristianismo. As Crônicas de Nárnia
é o terceiro trabalho de ficção de Lewis. Foi neste trabalho que o
irlandês pode mostrar seu apurado conhecimento em mitologia grega,
romana e nórdica, e, ao mesmo tempo imprimir uma marca pessoal na
concepção de seu mundo de fábula. Bem como as obras anteriores,
elementos do cristianismo estão presentes também nesta criação.
C.S. Lewis morreu em 22 de novembro de 1963, em Oxford, ao lado de
seu irmão, Warren. Curiosamente, a morte do escritor foi pouquíssimo
noticiada, pois aconteceu no mesmo dia do assassinato do presidente
americano John Kennedy. Escritores contemporâneos de literatura juvenil
inglesa já revelaram ser fortemente influenciados pelo trabalho de
Lewis. É o caso de Daniel Hundler (de A Series of Unfortunate Events), Eoin Colfer (de Artemis Fow)
e, claro, J.K. Rowling, que já contou ter prestado uma homenagem a
Lewis na saga Harry Potter. O nome Cedric Diggory, personagem de O Cálice de Fogo, é uma referência a Digory Kirke, personagem de Crônicas de Nárnia, principalmente no livro O Sobrinho do Mago.
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